segunda-feira, 15 de julho de 2013

Portão. Chuva. Ela.


1-   Tipuana

Mariane estava parada ao lado do portão da universidade, embaixo de alguns galhos de uma imensa árvore. Adorava aquela árvore, adorava suas folhas que tinham um formato cilíndrico, mas que se pareciam com pequenas listras horizontais. Sua floração era em Novembro, e ela sempre ansiava por aquele momento tão lindo, a árvore florescia tão amarela! Flores tão amarelinhas que pareciam gotinhas de ouro. Todo novembro que se sucedia, desde que começara o seu curso, fotografava o momento em que as belas flores nasciam.  

A pequena garota estava esperando aquela chuva tímida passar, para alcançar o seu ponto de ônibus que se localizava a duas esquinas. A chuva não era muito forte, eram apenas pequenos pingos, quase um chuvisco, mas a nossa doce menina possuía uma agonia terrível de se sentir molhada, e o tempo também não a ajudava, estava muito álgido. Não o suficiente para que ela pegasse um resfriado ao fazer a mistura de chuvisco e frio, mas decidiu esperar.

2-   Carlos

Em sua moto, como um herói de um filme épico qualquer, Carlos chega à porta da universidade. Examina a pequena garota que estava agarrada a uma mochila cinza, vestindo uma blusa com uma estampa divertida. Chegou a conclusão que se tratava de Mariane.  Gelou. É claro que o encontro seria inevitável, afinal, ele não havia procurado outra menina em novos ares, mas não estava preparado. A cumprimentaria?  Indagou-se. Como atravessaria o portão sem ter que falar com ela?

Mariane também havia reconhecido o motoqueiro babaca. Carlos, esse imbecil. O que ele está fazendo aqui? Pensou. Tentava não olhar para ele, mas não conseguia, ele não havia mudado em nada. A mesma jaqueta de couro preta, o mesmo capacete com alguns desenhos engraçados, aquela moto! Maldita moto. Lembrou-se de quando a compraram, foi um dia feliz para ele. E ela queria que esses dias felizes nunca tivessem fim, como o símbolo do infinito. Admirava o talento de nunca ter medo da chuva, de apreciar cada coisinha pequena que o mundo tinha a oferecer, mas odiava o fato contraditório de não apreciá-la 

Carlos acelerou brevemente, e parou ao lado de Mariane. Tirou o capacete lentamente, trocaram um olhar afetuoso, e finalmente palavras.

 -Oi.
- Oi.
- Eu vim para ver Gabriela, sabe onde ela está?
Calhorda, tinha que ser ela?
-Acho que ela ainda está lá dentro.
Sei que está irritada com a pergunta, você não precisa fingir, benzinho.
- A blusa é nova?
Babaca, por que você faz isso?
- Muitas coisas são. Só a playlist depressiva ainda toca Legião.
Dramática, não me interessa mais.
- Esse é o seu problema.
Vai se fuder.
-  Qual?
Cínica.
- Dramatizar.
Você não entende, nunca entendeu.
- Dramatizar o quê?
Sei que queres que eu te aninhe, sei que me deseja ainda, Mariane, mas eu não consigo, você me deixa louco. Não consigo te fazer feliz.
- Tudo.
 - Me poupe, Carlos.
- Não quero brigar com você.
- E nem  deve!
- Certo, então vou até lá.
- Certo.


Olhos cheios de lágrimas,  chuva caindo. Deixou que ele fosse.

Nenhum comentário:

Postar um comentário