terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Texto: Devaneios de Marisa

Marisa estava indo embora. Estava deixando aquela casa, aquela segurança, aquela pequena placenta que a envolvia, deixando-a sempre forte e bem alimentada... Mas havia chegado a hora, a hora de cortar o cordão umbilical, hora de ser dona de sua própria vida e alma.
Começaria esquecendo. Esquecendo a cama macia, os lençóis que ele tanto se gabava " Foram feitos na Indonésia, á mão!". Marisa se lembrava dessa frase de Mário e pensava em voz alta: - E eu ria, ria tanto, ri tanto naqueles lençóis, lençóis da Indonésia! Quanta bobagem Mário dizia... Achava que eu não iria me deitar se não fossem importados... Pura bobagem, mesmo que fossem fabricados no inferno, eu me deitaria ali, e ficaria olhando para Mário. Olhando aquela boca macia, sua respiração calma, aquela expressão serena que eu só consegui encontrar nele, as suas mãos firmes.
Marisa era de Mário, mas foi tanto dele, que um dia perdeu sua alma, e se perdeu naqueles lençóis, se perdeu em lágrimas. E agora ela ia embora.


Nenhum comentário:

Postar um comentário