Estava sentada naquele vaso sanitário há trinta minutos.
Cotovelos apoiados nas coxas, mãos segurando a sua cabeça, e o olhar para o
chão quadriculado.
Preto.
Branco.
Azul.
Muitos quadradinhos coloridos girando. Não sabia se giravam
pelo efeito da vodca, ácido, saudade, raiva. Carol havia bebido João, e o
vomitado há trinta minutos.
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17,
18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30.
15+15= 30
10+10+10= 30
3x10=30
Adorava números. Adorava matemática. Era uma exímia
engenheira. Queria ser professora, mas a grana era mais chamativa. Carol, doce Carol... Era a ovelha branca da
família. Mãos delicadas, unhas pintadas sempre com cores divertidas. Sorria
sempre...
Antes... Antes, leitor, antes de embriagar-se por João.
Antes... De tatuar o mesmo sol hindu que ele tinha no peito,
nas coxas.
Antes, Antes... De ouvir: “Se em cada música que ouço, penso
na senhora despida.”
Despiu-se.
Entregou-se.
Resolveu não ser mais antes.
Resolveu experimentar beber, usar drogas ilícitas.
Bebia João, por João.
Fumava João, por João.
João a abandonou. Apenas queria esquecê-lo
Comeu: “ Ana, Rita, Joana, Iracema e Carolina” , por achar
que nenhum homem o substituiria, mas pensava baixinho “ comeria o Raul Gil se
fosse preciso, para esquecê-lo”
Levantou-se. Lembrou-se de como João beijou Clarice na sua
frente.
Pobre Carol, pobre Carol. Achou que o João havia feito isso
na tentativa de esquecê-la também. Fez aquele escândalo. João a xingou de
prostituta. E era como se sentia. João sempre tinha razão.