1-
Tipuana
Mariane
estava parada ao lado do portão da universidade, embaixo de alguns galhos de
uma imensa árvore. Adorava aquela árvore, adorava suas folhas que tinham um formato
cilíndrico, mas que se pareciam com pequenas listras horizontais. Sua floração
era em Novembro, e ela sempre ansiava por aquele momento tão lindo, a árvore florescia
tão amarela! Flores tão amarelinhas que pareciam gotinhas de ouro. Todo novembro
que se sucedia, desde que começara o seu curso, fotografava o momento em que as
belas flores nasciam.
A pequena
garota estava esperando aquela chuva tímida passar, para alcançar o seu ponto
de ônibus que se localizava a duas esquinas. A chuva não era muito forte, eram
apenas pequenos pingos, quase um chuvisco, mas a nossa doce menina possuía uma agonia
terrível de se sentir molhada, e o tempo também não a ajudava, estava muito álgido.
Não o suficiente para que ela pegasse um resfriado ao fazer a mistura de
chuvisco e frio, mas decidiu esperar.
2- Carlos
Em sua moto,
como um herói de um filme épico qualquer, Carlos chega à porta da universidade.
Examina a pequena garota que estava agarrada a uma mochila cinza, vestindo uma
blusa com uma estampa divertida. Chegou a conclusão que se tratava de
Mariane. Gelou. É claro que o encontro seria inevitável, afinal, ele não
havia procurado outra menina em novos ares, mas não estava preparado. A
cumprimentaria? Indagou-se. Como
atravessaria o portão sem ter que falar com ela?
Mariane
também havia reconhecido o motoqueiro babaca. Carlos, esse imbecil. O que ele
está fazendo aqui? Pensou. Tentava não olhar para ele, mas não conseguia, ele
não havia mudado em nada. A mesma jaqueta de couro preta, o mesmo capacete com
alguns desenhos engraçados, aquela moto! Maldita moto. Lembrou-se de quando a compraram, foi um dia feliz para ele. E ela queria que esses dias felizes nunca tivessem fim, como o símbolo do infinito. Admirava o talento de
nunca ter medo da chuva, de apreciar cada coisinha pequena que o mundo tinha a
oferecer, mas odiava o fato contraditório de não apreciá-la
Carlos acelerou brevemente, e parou ao lado de Mariane. Tirou o capacete lentamente, trocaram um olhar afetuoso, e finalmente palavras.
-Oi.
- Oi.
- Eu vim
para ver Gabriela, sabe onde ela está?
Calhorda, tinha que ser ela?
-Acho que ela ainda está lá dentro.
Sei que está irritada com a pergunta, você não precisa fingir,
benzinho.
- A blusa é nova?
Babaca, por que você faz isso?
- Muitas coisas são. Só a playlist depressiva ainda toca Legião.
Dramática, não me interessa mais.
- Esse é o
seu problema.
Vai se fuder.
- Qual?
Cínica.
-
Dramatizar.
Você não entende, nunca entendeu.
- Dramatizar o quê?
Sei que queres que eu te aninhe, sei que me
deseja ainda, Mariane, mas eu não consigo, você me deixa louco. Não consigo te
fazer feliz.
- Tudo.
- Me poupe, Carlos.
- Não quero
brigar com você.
- E nem deve!
- Certo, então vou até lá.
- Certo, então vou até lá.
- Certo.
Olhos cheios
de lágrimas, chuva caindo. Deixou que
ele fosse.